terça-feira, dezembro 14, 2004
Baby steps
O giradiscos e o pilha-livros, já se sabe, têm passado por um mau bocado, tendo em conta o escasso número de posts publicados nas últimas semanas (nos últimos meses...). Este e aquele motivo, aquela e a outra falta de tempo, impossibilitaram que o giradiscos continuasse a ser o que tinha sido até ao final de Agosto.
A cada vez maior especialização livresca faz com que o pilha já esteja em pleno processo de ressurreição (qual milagre do senhor Gutenberg), mas deixa um amargo de boca. Afinal, onde está a paixão pela música?
Regressemos então. Com pequenos passos.
A cada vez maior especialização livresca faz com que o pilha já esteja em pleno processo de ressurreição (qual milagre do senhor Gutenberg), mas deixa um amargo de boca. Afinal, onde está a paixão pela música?
Regressemos então. Com pequenos passos.
sábado, novembro 20, 2004
sexta-feira, outubro 01, 2004
Comunicado
A gerência deste estabelecimento vem por este meio assegurar que, apesar dos fracos sinais de vida dados nas últimas semanas, o mesmo continua vivo e (espera-se) de boa saúde. Continuamos abertos (salvo seja) a visitas, comentários e colaborações, na esperança de um futuro melhor (e de um mundo melhor), em que o tempo (e o €) chegue para todas as encomendas (até para ir passar um mês à Islândia). Enquanto isso cá vamos andando, umas vezes melhor, outras pior, na paz do senhor, e da senhora.
Obrigado pela preferência :)
Obrigado pela preferência :)
segunda-feira, setembro 20, 2004
quarta-feira, setembro 01, 2004
quarta-feira, agosto 25, 2004
Noites Ritual Rock 2004
Juntem-se a nós no próximo fim-de-semana, para mais duas noites de concertos, nos Jardins do Palácio de Cristal, no Porto.
Sexta-feira, dia 27: Clã, Pluto, The Legendary Tiger Man, Fat Freddy, Jorge Cruz, Nuno.Nico, Fritz Kahn.
Sábado, dia 28: Mão Morta, Zen, Blunder, X-Wife, Matozoo, NBC, Capull.
Até lá :)
quinta-feira, agosto 19, 2004
Mão Morta - nus
Na noite que se avizinha, um mar de gatos com cio invade os sotãos, ensanguentando as memórias com a dor pungente dos dias em que o gume, o terrível gume das horas afiadas, rasgava os espíritos. Já o clarão das ruas toldava os cérebros com angústias venenosas e vertigens de suicídios sonhadores, na vontade de fugir ao inóspito vazio do tempo da ausência...
Sem o saber, estive muito tempo à espera deste álbum. Entrar nessa estrada de carne viva a caminho do destino aventuroso. E de repente a vontade de entrar nas letras, de chegar à boca de palco, de viajar neste belo desconhecido, eterno reencontro.
O mundo é nosso vamos a ele
O mundo é nosso não há que ter medo
O mundo é nosso vamos com ele brincar
Mais estranho quando penso que nunca antes tinha ouvido um álbum de Mão Morta de princípio a fim. Nunca antes tinha estado perante eles em palco, à espera do assombro. O tempo chegou e trouxe vertigens de espanto, do que não pensava poder sentir ao som da língua portuguesa.
Tudo é negro menos os nossos olhos
que dardejam luz no estupor da montanha incendiada pelo sol levante
já os nossos risos nervosos
soltos na velocidade da paisagem
desfilam para trás num bater de asas aflito e assustado
e o velho saxofone
como sereia rouca em calores de perdição
num sobressalto de vagas repentinas
abafa o chiar dos pneus
imprimindo correrias loucas ao granito macio da estrada
com que o mar cava a areia até aos nossos pés.
Esta é apenas uma pequena homenagem, mutável mas sempre presente, aos Mão Morta e ao seu recente álbum Nus.
e uma forma de responder ao porco espinho: eles andem aí...
Sem o saber, estive muito tempo à espera deste álbum. Entrar nessa estrada de carne viva a caminho do destino aventuroso. E de repente a vontade de entrar nas letras, de chegar à boca de palco, de viajar neste belo desconhecido, eterno reencontro.
O mundo é nosso vamos a ele
O mundo é nosso não há que ter medo
O mundo é nosso vamos com ele brincar
Mais estranho quando penso que nunca antes tinha ouvido um álbum de Mão Morta de princípio a fim. Nunca antes tinha estado perante eles em palco, à espera do assombro. O tempo chegou e trouxe vertigens de espanto, do que não pensava poder sentir ao som da língua portuguesa.
Tudo é negro menos os nossos olhos
que dardejam luz no estupor da montanha incendiada pelo sol levante
já os nossos risos nervosos
soltos na velocidade da paisagem
desfilam para trás num bater de asas aflito e assustado
e o velho saxofone
como sereia rouca em calores de perdição
num sobressalto de vagas repentinas
abafa o chiar dos pneus
imprimindo correrias loucas ao granito macio da estrada
com que o mar cava a areia até aos nossos pés.
Esta é apenas uma pequena homenagem, mutável mas sempre presente, aos Mão Morta e ao seu recente álbum Nus.
e uma forma de responder ao porco espinho: eles andem aí...
segunda-feira, agosto 16, 2004
Northern Sky
I never felt magic crazy as this
I never saw moons knew the meaning of the sea
I never held emotion in the palm of my hand
Or felt sweet breezes in the top of a tree
But now you're here
Brighten my northern sky.
I've been a long time that I'm waiting
Been a long that I'm blown
I've been a long time that I've wandered
Through the people I have known
Oh, if you would and you could
Straighten my new mind's eye.
Would you love me for my money
Would you love me for my head
Would you love me through the winter
Would you love me 'til I'm dead
Oh, if you would and you could
Come blow your horn on high.
I never felt magic crazy as this
I never saw moons knew the meaning of the sea
I never held emotion in the palm of my hand
Or felt sweet breezes in the top of a tree
But now you're here
Brighten my northern sky.
I never saw moons knew the meaning of the sea
I never held emotion in the palm of my hand
Or felt sweet breezes in the top of a tree
But now you're here
Brighten my northern sky.
I've been a long time that I'm waiting
Been a long that I'm blown
I've been a long time that I've wandered
Through the people I have known
Oh, if you would and you could
Straighten my new mind's eye.
Would you love me for my money
Would you love me for my head
Would you love me through the winter
Would you love me 'til I'm dead
Oh, if you would and you could
Come blow your horn on high.
I never felt magic crazy as this
I never saw moons knew the meaning of the sea
I never held emotion in the palm of my hand
Or felt sweet breezes in the top of a tree
But now you're here
Brighten my northern sky.
domingo, agosto 08, 2004
quinta-feira, agosto 05, 2004
quarta-feira, julho 28, 2004
Festival Tejo: dia 3
More Than A Thousand
Tara Perdida
Qwentin
Zen
Three And A Quarter
Ramp
Fonzie
Mão Morta
Alinhamento:
Gumes
Budapeste (Sempre a Rock & Rollar)
Em Directo (Para a Televisão)
Sobe, Querida, Desce
Morgue
Estilo
Vertigem
Gnoma
Lisboa (Por Entre as Sombras e o Lixo)
Vamos Fugir
Anarquista Duval
Cão da Morte
Fotos de arquivo: More Than A Thousand, Zingadin.pt, Three and a Quarter, ramp, Fonzie, maomorta
Tara Perdida
Qwentin
Zen
Three And A Quarter
Ramp
Fonzie
Mão Morta
Alinhamento:
Gumes
Budapeste (Sempre a Rock & Rollar)
Em Directo (Para a Televisão)
Sobe, Querida, Desce
Morgue
Estilo
Vertigem
Gnoma
Lisboa (Por Entre as Sombras e o Lixo)
Vamos Fugir
Anarquista Duval
Cão da Morte
Fotos de arquivo: More Than A Thousand, Zingadin.pt, Three and a Quarter, ramp, Fonzie, maomorta
terça-feira, julho 27, 2004
Festival Tejo: dia 2
Spelling Nadja
No dia anterior tínhamos ficado convencidos que o programa de concertos afinal tinha início marcado para as 21h30, meia hora depois do previsto. Daí que no Sábado, eram precisamente 21 horas, ainda passeássemos pelo recinto quando começámos a ouvir música (ao vivo) vinda do palco secundário. Logo acorremos para perceber que os Spelling Nadja já tinham iniciado a sua actuação,
que por momentos decorreu sem assistência.
Os poucos que ali se juntaram para acompanhar o anoitecer ao som deste sexteto só podem ter ficado maravilhados. Interpretando temas do seu álbum de estreia, "Winter Days", os Spelling Nadja cativam pelas canções quase de embalar, algures entre as histórias de desencontros nascidos da voz de Nádia e o cenário melancólico proporcionado pelos músicos que a acompanham. «Secret nights», «Given like a bless» e «I feel strange tonight» transportam-nos a esse mundo de sonhos e danças, que deixam no ar um "até à próxima".
Loto
Prosseguindo a digressão de promoção ao primeiro álbum , os Loto mostram-se agora com cinco elementos em palco e com o andamento de vários meses de estrada. Num alinhamento que deixou de fora «Good Feeling», todo o destaque foi para o álbum «The Club», e se havia quem ainda não conhecesse a onda musical destes jovens, um concerto destes elimina qualquer dúvida.
«Future Retro», «Disco Exotica» e «Back To Discos» levam-nos de volta ao disco-sound, toda a gente salta, toda a gente alegre, it's a «Celebration». E seria ainda por mais um pouco, mas a anunciada próxima canção ficou por tocar, já que por esta altura os Loto foram convidados a sair de palco. O espectáculo tem de continuar.
Hipnótica
Mesa
Plaza
Clã
À 2ª começa a tornar-se um padrão: depois de ter ficado deslumbrado com a actuação no Super Bock Super Rock, a esta não pode fugir o título de melhor de todo o Festival Tejo. Aqui pude finalmente vê-los com o espaço e tempo merecidos, assumindo a sua mais que natural posição de cabeças de cartaz. E que venha a concorrência, que este curioso Clã não tem medo de ninguém.
É certo que o povo ainda não conhece bem o último "Rosa Carne", mas isso não os intimida, e metem as suas músicas cá fora como se já as ouvíssemos pela 100ª vez, com o "Carrossel dos Esquisitos" a dar o tom de festa logo de início. "Madalena em Contrição", "Eu Ninguém" e "Uma Mulher da Vida" repetem o alinhamento do álbum e não deixam ninguém descansar, já que a seguir vem o momento alto da noite, quando todos começam a "Dançar na Corda Bamba" no que mais parecia um orgasmo colectivo. E ainda íamos a meio...
A maior surpresa (mesmo estando à espera sabe sempre a boa surpresa) veio dos Ornatos Violeta, quando do palco ouvimos as primeiras linhas de "Capitão Romance" e metade da assistência começa a cantar. Viva os Ornatos! Em festa até ao fim, com direito a 2 encores e um corajoso "Cáuboi Solidário" a fazer as despedidas, os Clã mostram-se no melhor momento de forma de sempre, e será um crime não passarem por eles na digressão que os vai ver por todo o país até Setembro. Por mim, até já :)
Alinhamento (com 2 encores):
GTI (Gentle, Tall & Intelligent)
Carrossel dos esquisitos
Curioso Clã
(?)
O Problema de Expressão
Madalena em contrição
Eu ninguém
Uma mulher da vida
Dançar na Corda Bamba
H2omem
Sangue Frio
Capitão Romance (Ornatos Violeta)
Aqui na Terra
Competência para amar
Fahrenheit
Crime passional
O Sopro do Coração
Topo de gama
Caubói Solidário
Fotos: Tony, Dracul & Corvo; Rapariga do Mercado Negro (2ª Loto).
No dia anterior tínhamos ficado convencidos que o programa de concertos afinal tinha início marcado para as 21h30, meia hora depois do previsto. Daí que no Sábado, eram precisamente 21 horas, ainda passeássemos pelo recinto quando começámos a ouvir música (ao vivo) vinda do palco secundário. Logo acorremos para perceber que os Spelling Nadja já tinham iniciado a sua actuação,
que por momentos decorreu sem assistência.
Os poucos que ali se juntaram para acompanhar o anoitecer ao som deste sexteto só podem ter ficado maravilhados. Interpretando temas do seu álbum de estreia, "Winter Days", os Spelling Nadja cativam pelas canções quase de embalar, algures entre as histórias de desencontros nascidos da voz de Nádia e o cenário melancólico proporcionado pelos músicos que a acompanham. «Secret nights», «Given like a bless» e «I feel strange tonight» transportam-nos a esse mundo de sonhos e danças, que deixam no ar um "até à próxima".
Loto
Prosseguindo a digressão de promoção ao primeiro álbum , os Loto mostram-se agora com cinco elementos em palco e com o andamento de vários meses de estrada. Num alinhamento que deixou de fora «Good Feeling», todo o destaque foi para o álbum «The Club», e se havia quem ainda não conhecesse a onda musical destes jovens, um concerto destes elimina qualquer dúvida.
«Future Retro», «Disco Exotica» e «Back To Discos» levam-nos de volta ao disco-sound, toda a gente salta, toda a gente alegre, it's a «Celebration». E seria ainda por mais um pouco, mas a anunciada próxima canção ficou por tocar, já que por esta altura os Loto foram convidados a sair de palco. O espectáculo tem de continuar.
Hipnótica
Mesa
Plaza
Clã
À 2ª começa a tornar-se um padrão: depois de ter ficado deslumbrado com a actuação no Super Bock Super Rock, a esta não pode fugir o título de melhor de todo o Festival Tejo. Aqui pude finalmente vê-los com o espaço e tempo merecidos, assumindo a sua mais que natural posição de cabeças de cartaz. E que venha a concorrência, que este curioso Clã não tem medo de ninguém.
É certo que o povo ainda não conhece bem o último "Rosa Carne", mas isso não os intimida, e metem as suas músicas cá fora como se já as ouvíssemos pela 100ª vez, com o "Carrossel dos Esquisitos" a dar o tom de festa logo de início. "Madalena em Contrição", "Eu Ninguém" e "Uma Mulher da Vida" repetem o alinhamento do álbum e não deixam ninguém descansar, já que a seguir vem o momento alto da noite, quando todos começam a "Dançar na Corda Bamba" no que mais parecia um orgasmo colectivo. E ainda íamos a meio...
A maior surpresa (mesmo estando à espera sabe sempre a boa surpresa) veio dos Ornatos Violeta, quando do palco ouvimos as primeiras linhas de "Capitão Romance" e metade da assistência começa a cantar. Viva os Ornatos! Em festa até ao fim, com direito a 2 encores e um corajoso "Cáuboi Solidário" a fazer as despedidas, os Clã mostram-se no melhor momento de forma de sempre, e será um crime não passarem por eles na digressão que os vai ver por todo o país até Setembro. Por mim, até já :)
Alinhamento (com 2 encores):
GTI (Gentle, Tall & Intelligent)
Carrossel dos esquisitos
Curioso Clã
(?)
O Problema de Expressão
Madalena em contrição
Eu ninguém
Uma mulher da vida
Dançar na Corda Bamba
H2omem
Sangue Frio
Capitão Romance (Ornatos Violeta)
Aqui na Terra
Competência para amar
Fahrenheit
Crime passional
O Sopro do Coração
Topo de gama
Caubói Solidário
Fotos: Tony, Dracul & Corvo; Rapariga do Mercado Negro (2ª Loto).
segunda-feira, julho 26, 2004
Festival Tejo: dia 1
ZedIsANeonLight
Coube aos ZedIsANeonLight abrir o Festival Tejo. E a escolha dificilmente seria melhor. Com meia hora de atraso e com o ainda pouco público a cirandar pelo recinto, os ZedIsANeonLight abriram com «C.A.T.S.» e «Give You My (Love)» para que se espalhassem sons familiares que trouxessem espectadores para a boca do palco. E a fórmula resultou. Quando este chamamento terminou, a banda já tinha audiência para apresentar três temas novos, que soaram ainda mais dub e frenéticos que o primeiro álbum. E a recepção a esta antevisão a um futuro 2º disco foi bastante positiva. O público dançou, aplaudiu e pareceu extremamente agradado. Como forma de agradecimento, os ZedIsANeonLight voltaram ao familiar, e terminaram a actuação com «Romeros», ainda a tempo de o público dirigir-se ao palco principal e gozar Dealema.
O grande destaque vai para o acompanhamento que um dançarino/bailarino (será ele o Zed?) deu à banda, em palco, durante grande parte do concerto. Com um olhar e movimentos alucinados, ele deu um espectáculo dentro do espectáculo.
Dealema
Os Dealema tiveram a responsabilidade de inaugurar o palco principal do Festival, quando ainda não estavam muitas pessoas no recinto, num dia em que grande parte do público que ali se dirigiu o fez para ver e ouvir os cabeças de cartaz.
Mesmo assim, e como lhes é reconhecido, conseguiram animar e pôr a mexer todos os que ali se encontravam, afirmando-se e confirmando-se como mestres do hip-hop vindo do Norte, de sotaque marcado e personalidade vincada.
Foram eles os primeiros a lembrar Carlos Paredes, assim como muitas outras bandas o fizeram ao longo do Festival, aqui homenageado através de «Fado Vadio». Como já vem sendo habitual, os espectáculos dos Dealema trazem um brinde, e Marta Ren (vocalista dos Sloppy Joe) subiu ao palco para acompanhar os 4 MC's em 2 músicas. O colectivo teve ainda oportunidade de apresentar uma música nova, já em encore, com um "façam barulho!" repetido até à exaustão, o público a retribuir e a dar como ganho o início de noite, depois da festa que os Zedisaneonlight já tinham dado anteriormente.
Plástica
Quando voltei a olhar para o palco secundário fiquei alguns minutos a tentar decidir onde encaixar aquelas quatro figuras. Se não soubesse que eram os Plastica, diria que era alguma «All-Star Band», que reunia elementos de quatro bandas diferentes, principalmente o baixista, que parecia perdido no heavy-metal late eighties, e o vocalista, que parecia acabadinho de sair de um teledisco dos Primal Scream. Ainda assim, esperei para ver se os Plastica soavam melhor ao vivo do que no leitor lá de casa. Não soaram.
A banda apresenta um som muito brit, user-friendly, com riffs «pseucadélicos» e refrões básicos, e uma voz de "não-sei-se-quero-ser-Liam-Gallagher-ou-Richard-Ashcroft", e uma passividade muito irritante. Ainda assim, o público (aquele que estava lá bem à frente) parece ter gostado da actuação, que contou com temas do novo álbum, como «Bugs & Astronauts», «Radio Energy» ou «Around», e no fundo, isso é que interessa, que haja alguém que goste.
Yellow W Van
Loosers
Quando no final da 2ª música, vimos um técnico de som a fazer indicação aos músicos que apenas iam tocar mais uma, ficámos tão surpreendidos como aliviados. Ainda agora não sabemos a que se deveu tal decisão: o atraso de uns 40 minutos no alinhamento das bandas não justificaria tanto; daí a (não existente) reacção do público aos sons que se iam ouvindo ter ficado como a explicação mais plausível, mas apresente-se quem saiba dizer mais.
Os Loosers dizem-se possuidores de um som «embebido de distorção e dissonância dançante». Eu diria que é apenas isso.
O erro de casting do Festival.
Xutos & Pontapés
Alinhamento:
- Pr'a Ti Maria
- À Minha Maneira
- Desejo
- Pequeno Pormenor
- Zona Limite
- Mãe
- Enquanto a Noite Cai
- O Jogo do Empurra
- O Mundo ao Contrário
- As Cartas de Maria
- Circo de Feras
- Não Sou o Único
- Ai Se Ele Cai
- Vida Malvada
- Dia de S. Receber
- Chuva Dissolvente
- Homem do Leme
- Contentores
- A Minha Casinha
Texto: J (ZedIsANeonLight, Plastica, Xutos & Pontapés), Dracul (Dealema, Loosers) / Fotos de arquivo: Zona Música, Dealema, Rui M Leal, Yellow movement, Loosers, Xutos & Pontapés.
Coube aos ZedIsANeonLight abrir o Festival Tejo. E a escolha dificilmente seria melhor. Com meia hora de atraso e com o ainda pouco público a cirandar pelo recinto, os ZedIsANeonLight abriram com «C.A.T.S.» e «Give You My (Love)» para que se espalhassem sons familiares que trouxessem espectadores para a boca do palco. E a fórmula resultou. Quando este chamamento terminou, a banda já tinha audiência para apresentar três temas novos, que soaram ainda mais dub e frenéticos que o primeiro álbum. E a recepção a esta antevisão a um futuro 2º disco foi bastante positiva. O público dançou, aplaudiu e pareceu extremamente agradado. Como forma de agradecimento, os ZedIsANeonLight voltaram ao familiar, e terminaram a actuação com «Romeros», ainda a tempo de o público dirigir-se ao palco principal e gozar Dealema.
O grande destaque vai para o acompanhamento que um dançarino/bailarino (será ele o Zed?) deu à banda, em palco, durante grande parte do concerto. Com um olhar e movimentos alucinados, ele deu um espectáculo dentro do espectáculo.
Dealema
Os Dealema tiveram a responsabilidade de inaugurar o palco principal do Festival, quando ainda não estavam muitas pessoas no recinto, num dia em que grande parte do público que ali se dirigiu o fez para ver e ouvir os cabeças de cartaz.
Mesmo assim, e como lhes é reconhecido, conseguiram animar e pôr a mexer todos os que ali se encontravam, afirmando-se e confirmando-se como mestres do hip-hop vindo do Norte, de sotaque marcado e personalidade vincada.
Foram eles os primeiros a lembrar Carlos Paredes, assim como muitas outras bandas o fizeram ao longo do Festival, aqui homenageado através de «Fado Vadio». Como já vem sendo habitual, os espectáculos dos Dealema trazem um brinde, e Marta Ren (vocalista dos Sloppy Joe) subiu ao palco para acompanhar os 4 MC's em 2 músicas. O colectivo teve ainda oportunidade de apresentar uma música nova, já em encore, com um "façam barulho!" repetido até à exaustão, o público a retribuir e a dar como ganho o início de noite, depois da festa que os Zedisaneonlight já tinham dado anteriormente.
Plástica
Quando voltei a olhar para o palco secundário fiquei alguns minutos a tentar decidir onde encaixar aquelas quatro figuras. Se não soubesse que eram os Plastica, diria que era alguma «All-Star Band», que reunia elementos de quatro bandas diferentes, principalmente o baixista, que parecia perdido no heavy-metal late eighties, e o vocalista, que parecia acabadinho de sair de um teledisco dos Primal Scream. Ainda assim, esperei para ver se os Plastica soavam melhor ao vivo do que no leitor lá de casa. Não soaram.
A banda apresenta um som muito brit, user-friendly, com riffs «pseucadélicos» e refrões básicos, e uma voz de "não-sei-se-quero-ser-Liam-Gallagher-ou-Richard-Ashcroft", e uma passividade muito irritante. Ainda assim, o público (aquele que estava lá bem à frente) parece ter gostado da actuação, que contou com temas do novo álbum, como «Bugs & Astronauts», «Radio Energy» ou «Around», e no fundo, isso é que interessa, que haja alguém que goste.
Yellow W Van
Loosers
Quando no final da 2ª música, vimos um técnico de som a fazer indicação aos músicos que apenas iam tocar mais uma, ficámos tão surpreendidos como aliviados. Ainda agora não sabemos a que se deveu tal decisão: o atraso de uns 40 minutos no alinhamento das bandas não justificaria tanto; daí a (não existente) reacção do público aos sons que se iam ouvindo ter ficado como a explicação mais plausível, mas apresente-se quem saiba dizer mais.
Os Loosers dizem-se possuidores de um som «embebido de distorção e dissonância dançante». Eu diria que é apenas isso.
O erro de casting do Festival.
Xutos & Pontapés
Alinhamento:
- Pr'a Ti Maria
- À Minha Maneira
- Desejo
- Pequeno Pormenor
- Zona Limite
- Mãe
- Enquanto a Noite Cai
- O Jogo do Empurra
- O Mundo ao Contrário
- As Cartas de Maria
- Circo de Feras
- Não Sou o Único
- Ai Se Ele Cai
- Vida Malvada
- Dia de S. Receber
- Chuva Dissolvente
- Homem do Leme
- Contentores
- A Minha Casinha
Texto: J (ZedIsANeonLight, Plastica, Xutos & Pontapés), Dracul (Dealema, Loosers) / Fotos de arquivo: Zona Música, Dealema, Rui M Leal, Yellow movement, Loosers, Xutos & Pontapés.
sexta-feira, julho 23, 2004
quinta-feira, julho 22, 2004
The Ultimate Architects, 2 Julho, Santiago Alquimista
Faz já amanhã três semanas que os The Ultimate Architects deram um concerto no Santiago Alquimista, a que o giradiscos teve o prazer de assistir. Mesmo não tendo sido possível apresentar uma reportagem em tempo útil, fica aqui o registo de mais um espectáculo da banda que continua a promover o seu último EP, "Elevata".
O destaque vai para a apresentação de um tema novo, "King" (e do vídeo correspondente), e para a já habitual versão de "Transmission", dos Joy Division, entre músicas dos dois EP's da banda. Foi um concerto intimista, com uma audiência inicial constituída por muitos amigos e conhecidos da banda, mas que foi crescendo ao longo do espectáculo.
Alinhamento:
intro + Run
Neon Moon
Relentless Misgivings
Someone
Nebula
Esthamine
King
The Pain
Amber
Transmission
Endorphine
--------------
Someone
Esta semana surgiu a confirmação da presença dos The Ultimate Architects no Festival Sudoeste deste ano, mais precisamente no dia de encerramento (8 de Agosto), com actuação marcada para o palco Planeta Sudoeste por volta das 17h00.
Texto: Dracul / Fotos: The Ultimate Architects, Rui M Leal.
O destaque vai para a apresentação de um tema novo, "King" (e do vídeo correspondente), e para a já habitual versão de "Transmission", dos Joy Division, entre músicas dos dois EP's da banda. Foi um concerto intimista, com uma audiência inicial constituída por muitos amigos e conhecidos da banda, mas que foi crescendo ao longo do espectáculo.
Alinhamento:
intro + Run
Neon Moon
Relentless Misgivings
Someone
Nebula
Esthamine
King
The Pain
Amber
Transmission
Endorphine
--------------
Someone
Esta semana surgiu a confirmação da presença dos The Ultimate Architects no Festival Sudoeste deste ano, mais precisamente no dia de encerramento (8 de Agosto), com actuação marcada para o palco Planeta Sudoeste por volta das 17h00.
Texto: Dracul / Fotos: The Ultimate Architects, Rui M Leal.
sexta-feira, julho 09, 2004
este fim-de-semana, Música Urbana e Sons Alternativos
Decorre este fim-de-semana a 6ª edição do MUSA - Música Urbana e Sons Alternativos. No recinto da Feira de Carcavelos, a partir das 20h, 5 bandas em cada dia farão as honras da casa, com o destaque a recaír sobre os cabeças de cartaz Terrakota, hoje, e Moonspell, na noite de amanhã.
Os bilhetes custam 3 euros (ou 5 euros pelos dois dias) e as portas abrem às 18h.
Organização: Criativa.
sexta-feira, julho 02, 2004
Alanis Morissette, Aveiro 24.Jun.04
Para nós foi uma surpresa a quantidade de pessoas que assistiram ao concerto de Alanis Morissette, na última sexta-feira, em Aveiro. Porque estávamos fora do circuito normal dos concertos e festivais; porque há um Europeu de futebol a absorver todas as atenções e energias; porque a divulgação foi fraca. Brincando com este último aspecto, no caminho para lá falávamos de quantas dezenas de pessoas estariam no recinto para assistir ao regresso da cantora canadiana a Portugal...
Chegámos ao local já noite dentro, e apesar de às 22h (hora prevista para o início do concerto) o ajuntamento perto do palco não ser muito grande (pelo menos em comparação com outros grandes concertos), muitos ainda esperavam a sua vez de entrar. Não deu para ter uma percepção do número, mas outros relatos dizem que estavam lá 7 mil pessoas! Aveiro em peso está claro, meia Lisboa, outro tanto do Porto, e alguns estrangeiros, em particular espanhóis, já que esta foi a única paragem da digressão em território ibérico.
Não menos surpreendente foi a própria Alanis. Surgiu toda de branco, angelical, com um novo corte de cabelo, mais fresco, mais “fashion”, mais «O Sexo e a Cidade». Surpreendeu pela postura contida, mais segura, em comparação com apresentações anteriores. Postura essa que de certa forma se adequou a um público de cariz mais familiar, mas que se mostrou à altura, principalmente nas músicas mais conhecidas.
E as mais conhecidas serão sempre as do álbum que deu a conhecer Alanis ao mundo, o já distante “Jagged Little Pill” que naquela noite fez as despesas da casa, com “Head Over Feet” e “You Oughta Know” em destaque e a entusiasmar a assistência. Este é no entanto tempo de promoção ao novo álbum "So-Called Chaos", apesar de só o single “Everything” ter merecido recepção tão entusiasta, com o público a não acompanhar todas as outras. Ou como dizia uma jovem mesmo atrás de nós, enquanto falava ao telemóvel durante “Front Row”, a canção que inicia o álbum “Supposed Former Infatuation Junkie”: «eu ligo-te outra vez quando ela tocar uma mais conhecida”...
“Uninvited” encerrou o alinhamento e provocou um dos momentos mais intensos, antes dos dois encores, com “Ironic” no ponto mais alto da noite, e a despedida ao som de “Thank U”, agradecendo a recepção, apesar de tudo calorosa, deste início de digressão.
Encontrámos em Aveiro uma Alanis Morissette mais segura e controlada. Ou a história de uma menina revoltada que deu lugar a uma mulher madura.
alinhamento:
eight easy steps
21 things i want in a lover
right through you
hands clean
not the doctor
this grudge
head over feet
spineless
you oughta know
front row
so unsexy
knees of my bees
you learn
uninvited
________________
everything
hand in my pocket
________________
ironic
thank u
Texto: Astianax & Dracul / Fotos: On Line News - Aveiro, Dracul.
Chegámos ao local já noite dentro, e apesar de às 22h (hora prevista para o início do concerto) o ajuntamento perto do palco não ser muito grande (pelo menos em comparação com outros grandes concertos), muitos ainda esperavam a sua vez de entrar. Não deu para ter uma percepção do número, mas outros relatos dizem que estavam lá 7 mil pessoas! Aveiro em peso está claro, meia Lisboa, outro tanto do Porto, e alguns estrangeiros, em particular espanhóis, já que esta foi a única paragem da digressão em território ibérico.
Não menos surpreendente foi a própria Alanis. Surgiu toda de branco, angelical, com um novo corte de cabelo, mais fresco, mais “fashion”, mais «O Sexo e a Cidade». Surpreendeu pela postura contida, mais segura, em comparação com apresentações anteriores. Postura essa que de certa forma se adequou a um público de cariz mais familiar, mas que se mostrou à altura, principalmente nas músicas mais conhecidas.
E as mais conhecidas serão sempre as do álbum que deu a conhecer Alanis ao mundo, o já distante “Jagged Little Pill” que naquela noite fez as despesas da casa, com “Head Over Feet” e “You Oughta Know” em destaque e a entusiasmar a assistência. Este é no entanto tempo de promoção ao novo álbum "So-Called Chaos", apesar de só o single “Everything” ter merecido recepção tão entusiasta, com o público a não acompanhar todas as outras. Ou como dizia uma jovem mesmo atrás de nós, enquanto falava ao telemóvel durante “Front Row”, a canção que inicia o álbum “Supposed Former Infatuation Junkie”: «eu ligo-te outra vez quando ela tocar uma mais conhecida”...
“Uninvited” encerrou o alinhamento e provocou um dos momentos mais intensos, antes dos dois encores, com “Ironic” no ponto mais alto da noite, e a despedida ao som de “Thank U”, agradecendo a recepção, apesar de tudo calorosa, deste início de digressão.
Encontrámos em Aveiro uma Alanis Morissette mais segura e controlada. Ou a história de uma menina revoltada que deu lugar a uma mulher madura.
alinhamento:
eight easy steps
21 things i want in a lover
right through you
hands clean
not the doctor
this grudge
head over feet
spineless
you oughta know
front row
so unsexy
knees of my bees
you learn
uninvited
________________
everything
hand in my pocket
________________
ironic
thank u
Texto: Astianax & Dracul / Fotos: On Line News - Aveiro, Dracul.
quinta-feira, julho 01, 2004
Gotan Project
Passo a apresentar o som que se ouve pelos meus lados. Recomendo vivamente o album "La revancha del Tango". Um projecto que vale a pena conhecer: Gotan Project
"Eram uma vez três amigos de três cantos do mundo. Um, Philippe Cohen-Solal, era francês; dirigia uma editora chamada ¡Ya Basta! e fazia house music. Outro, Christoph H. Mueller, era suiço e conhecido das electrónicas sofisticadas. Trabalhavam juntos como produtores e engenheiros de som. Outro ainda, Eduardo Makaroff, era argentino, guitarrista e vivia em França há dez anos.
Há pouco mais de dois anos juntaram-se à esquina e procuraram um som para um projecto a três. Queriam ter dub e o bandonéon argentino que Piazzolla tanto ajudou a divulgar. À chegada, sem eles próprios saberem muito bem como, inventaram o cibertango — daí o nome Gotan Project ("Gotan" é tango ao contrário no calão de Buenos Aires)"
sexta-feira, junho 25, 2004
A caminho de Aveiro
Hoje é dia grande. O país acorda em festa graças ao futebol, que nos vai dando alegrias duas vezes por semana, e é nesse espírito que embarcamos hoje a caminho de Aveiro. Não, o jogo de hoje não é lá, que há estádios novos que apenas receberam dois jogos, e o França-Grécia desta noite volta a ter Lisboa como palco. Não entramos no caminho de Lisboa, antes saímos dela para aplaudir o sentimento oposto: descentralizemos, o desporto, os eventos, os concertos, a vida.
A única aparição de Alanis Morissette na Península Ibérica nesta digressão acontece na Praça Fonte Nova, em Aveiro, esta noite.
Que melhor desculpa para sair da capital e ir conhecer mais uma das nossas belas cidades? Três de nós aqui do giradiscos seguimos caminho para um encontro marcado com a música, onde quer que ela esteja. Fica aqui o desafio sempre presente: juntem-se a nós nesta celebração.
E lançamos outro desafio: deixem aqui os vossos comentários ao dia de hoje, ao espectáculo e à viagem, porque não puderam embarcar ou como é que vibraram com os sons das nossas vidas. Esta noite. Em Aveiro. Venham daí
A única aparição de Alanis Morissette na Península Ibérica nesta digressão acontece na Praça Fonte Nova, em Aveiro, esta noite.
Que melhor desculpa para sair da capital e ir conhecer mais uma das nossas belas cidades? Três de nós aqui do giradiscos seguimos caminho para um encontro marcado com a música, onde quer que ela esteja. Fica aqui o desafio sempre presente: juntem-se a nós nesta celebração.
E lançamos outro desafio: deixem aqui os vossos comentários ao dia de hoje, ao espectáculo e à viagem, porque não puderam embarcar ou como é que vibraram com os sons das nossas vidas. Esta noite. Em Aveiro. Venham daí
sábado, junho 12, 2004
Super Bock Super Rock: última noite
Era grande a expectativa para esta noite, aquela em que o Parque Tejo apresentava um impressionante cartaz capaz de deixar vários milhares de pessoas numa muito ansiosa espera.
O cartaz não só era impressionante, como também extenso, o que fez com que as actividades musicais começassem bem cedo, perto das 17 horas, com as actuações dos Loosers e dos X-Wife, no palco Quinta dos Portugueses. Apesar de termos recebido a tempo a dica de apanharmos o comboio até Sacavém para nos dirigirmos até ao recinto (afinal não era assim tão perto do Parque das Nações...), que ficava mesmo junto à estação, já não chegámos a tempo destes primeiros dois concertos do dia.
Eram então 18 horas e havia já uma enorme romaria a dirigir-se para o festival, mesmo a tempo de assistir ao início do concerto dos norte-americanos Liars.
Em uma hora de música retirada quase sempre de bateria, guitarra e voz, com alguns efeitos à mistura, a sensação era a de que os três elementos da banda estavam a dar uma grande festa em palco, para eles próprios.
Referenciados com o pós-punk e com o pós-industrial, o que quer que isso signifique, é sobretudo a parte do punk que é ilustrada em palco, tanto pela música como pela atitude, e que conseguiu puxar algum entusiasmo às poucas centenas de pessoas que se encontravam em frente ao palco.
Num programa sem interrupções, ao final do concerto dos Liars seguiu-se de imediato a actuação de André Indiana, com o seu característico som poderoso e contagiante, num espectáculo que denota já uma grande rodagem pelos palcos nacionais e com várias canções familiares ao ouvido. Contagiante mesmo à distância, já que passámos a maior parte do concerto afastados do palco, nas muitas filas que havia, ora para comer, ora para ir às casas-de-banho.
Perto das 19h30 foi a vez dos britânicos Hundred Reasons iniciarem a sua actuação, da qual só vimos mais de perto a 2ª metade. Com o vocalista Colin Doran muito activo, fica talvez a ideia de um som já ouvido noutro lado, com essa possível falta de originalidade a ser compensada por uma enorme vontade e entrega em palco, que são já imagens de marca desta banda.
Com um primeiro registo discográfico em 2000, através de um EP reeditado em 2002, os Hundred Reasons e o seu rock pesado têm já uma considerável legião de fãs no Reino Unido, onde realizam digressões regularmente, mas demoram a impôr-se no resto da Europa.
Com o recinto cada vez mais cheio, era chegada a hora de Paulo Furtado vir espalhar a palavra do senhor (a sua), acompanhado dos restantes membros dos Wray Gunn, em estado de graça desde o recente lançamento do 2º álbum "Eclesiastes 1.11".
Logo à entrada o tom religioso é dado pelo coro gospel, os primeiros a entrar em palco, todos de preto vestidos e dispostos a converter-nos. Quem não tem cara de pastor é Paulo Furtado, que pouco tempo depois já tirou a camisa e vai guiando a orquestra por canções do último álbum, com os restantes elementos a trocarem de posições e a entrar e sair de palco várias vezes.
Depois de ter assistido a concertos do Legendary Tiger Man, fica a sensação de que os Wray Gunn são uma versão em formato maior do que aí é apresentado num "one-man-show", onde lá o espectáculo é dado por um músico sentado (mas frenético) e aqui o delírio musical e visual é total.
Perto do final passam por "Lonely", talvez a sua música mais conhecida, numa versão muito diferente da original, mas os fiéis começam já a procurar a redenção noutro local, já que mesmo ao lado faltam apenas alguns minutos para o concerto mais aguardado da noite.
Era um sonho de miúdo. Os Pixies, todos juntos e ao vivo. O receio era algum, depois de um afastamento digno de uma "banda de ruptura" (cada um para seu lado, talvez com a excepção de Black Francis e de Santiago que, segundo parece, ainda se entendem), sem paciências para egos alheios e fartos de se prenderem mutuamente; depois de declarações recentes a afastarem hipóteses de uma possivel reunião (segundo Black Francis, há cerca de um ano, só iria aturar o resto da xaranga se estivesse sem dinheiro, algo que, dizia ele na altura, não se afigurava provável); de projectos paralelos (Frank Black, Breeders e sabe-se lá que mais andaram estes tresloucados a inventar); a fasquia já só estava em o concerto acontecer de facto.
O palco estava lá, sim senhor, os horários a serem escrupulosamente cumpridos (este Super Bock falhou nalgumas coisas, mas não aqui), OK, também está certo; uma data de ex-teenagers rebeldes bem estabelecidos na vida (pelo menos o suficiente para abdicarem de um final de sexta-feira e de 37 euros), bom tempo, descontracção (pelo que vi, muita dela aditivada com vegetação tropical) e... entram os tais tipos manhosos que faziam isso de música diferente (seja lá o que isso for), que misturavam espanhol com inglês, distorção com acústica, que gritavam; ele era baterista a fumar e vocalista gordo, ele era música para surfista ouvir vinda de uns tipos que tinham era mas é ar de quem fica na esplanada a beber copos; ele era macacos e planetas nas capas dos vinis; resumindo, e como diria um tipo que eu conheço, o "fim do mundo em cuecas".
Numa expressão: está tudo mais velho. Uns mais intelectuais (Santiago e Lovering mais parecia que tinham acabado de lançar um livro), outros mais gordos (Deal, Lovering e, evidentemente, Black Francis...) e todos com um ar mais limpinho. Mas atenção, como se viu passado pouco tempo, pelo menos para tocar ao vivo não está tudo morto. Deal já não se mexe muito, é um facto, mas não falha uma nota.
"Bone Machine" a começar e, primeira constatação, eles vieram para tocar. Tudo, mas mesmo tudo, a funcionar. O som estava devidamente calibrado, eles a tocarem compenetrados, com uma perfeição de meter inveja e praticamente sem interacção com o público. "Something Against You", "Monkey Gone to Heaven", "Gigantic", "Velouria", "Allison", "Hey", "Where Is My Mind", o mal amado "Here Comes Your Man", "Crackity Jones", "Caribou" e sei lá que mais... No fim de uma, logo outra, não havia tempo a perder.
Infelizmente para o leitor, tenho de referir mais uma nota pessoal (preparem-se que vão haver mais): estava com um grupo de amigos que não estava todo junto há uns largos anos. Já me estava a borrifar para a falta de interacção, cantámos todos as músicas em coro. Eles eram os Pixies, vieram para tocar e tocaram como eu sempre os quis ver.
O David Lovering a cada música que passava parecia mais novo, ele até pode estar a tocar o ritmo mais fácil do mundo, mas fá-lo com uma pinta indescritível. Só a Kim Deal continuava algo parada (alheada?), e creio que foi ela a envelhecer mais. No entanto, sempre me lembro daquele ar indiferente, agarrada ao baixo enquanto fumava um cigarro; isto sempre que não cantava. Só vislumbrei um sorriso de menina quando (e não me lembro exactamente quando) se apercebeu, numa fase mais pausada do "barulho", que o público cantava em conjunto com ela. Pareceu-me vislumbrar uns olhitos a quererem dizer "eu bem te disse que valia a pena voltares com a tua xaranga".
Black Francis continua a gritar em "Isla de Encanta", em "Vamos", em tudo que lhe apetece. Joey Santiago, o guitarrista filipino (estes gajos são mesmo "fora"), continua a fazer solos que mais ninguém faz. Não é que sejam assim tão bons (também não são assim tão maus), mas é talvez o melhor do mundo a pôr um chapéu em cima de uma guitarra na vertical, com distorção e feedback, e tudo aquilo soar bem (mais uma nota pessoal, não fumei nada e só bebi uma cerveja antes do concerto).
Quem não conhecia e não ficou a gostar era porque não tinha que ficar a gostar. Apesar de "Here Comes Your Man", nem toda a gente tem de gostar do gordo que grita com a xaranga. Já vieram outros depois, que foram mais longe, é certo; mas eles, na altura, abriram portas, foram mesmo diferentes. Agora é mais fácil.
Quem já gostava não se arrependeu, foi mesmo um concerto dos Pixies. Talvez mais perfeitos a tocar, talvez menos comunicativos, mas eles nunca ficaram na história por serem simpáticos. Ficaram sim por "agarrarem no material e mostrarem como é".
Faltava uma das minhas favoritas (lá vem a nota pessoal), "Gouge Away". Já agora, Eliana, haja justiça nesta coisa do pessoal, uma das "nossas" favoritas. Começa o encore e lá vem ela (não a Eliana, o "Gouge Away"...).
Para finalizar (senão isto nunca mais acaba) e se é redundante dizer que uns gajos que se separaram lá para 1991 (se é que há alguém sabe ao certo quando foi) só tocaram músicas antigas, não posso deixar de registar que, praticamente, não tocaram nada do "Trompe le Monde", último álbum da banda. Até no alinhamento surpreenderam. Tive pena, porque a versão de "Head On" (original dos Jesus and Mary Chain) é, para mim, incontornável. Mas se calhar, eles estão é mesmo sem dinheiro.
Após os Pixies saírem de palco, milhares de pessoas começaram a andar em todas as direcções, para comer, descansar, aliviar-se, o que fosse, e num recinto sem qualquer iluminação a não ser a dos palcos e a das roulottes da comida, foi a confusão total (um pouco semelhante às celebrações dos Santos Populares nas ruas de Lisboa no dia seguinte, mas mais escuro).
Incluídos nesse grupo, não pudemos fazer mais do que assistir de longe aos jogos de luzes do palco secundário, onde a essa hora actuavam os Pluto. A nova banda de Manuel Cruz e Peixe, ambos ex-Ornatos Violeta, não teve sorte no sorteio e poucos devem ter ficado para assistir ao concerto. A minha curiosidade em assistir a mais uma reencarnação do meio musical português terá de aguardar por outra (melhor) oportunidade, de preferência em nome próprio.
Numa ronda pela net, vê-se que não fomos os únicos a ir dar uma volta nesta altura, mas ainda se apanha um «som mais cru e pesado, mas altamente apelativo e sempre com o carimbo de qualidade das letras de Cruz» na rock sound, e o Público falou em «introspecção sinfónica», «longas digressões psicadélicas», «solos de guitarra progressiva» e Radiohead. Esperemos pelo próximo concerto, e pelo álbum.
Pouco depois das 23 horas, é chegada a vez de Lenny Kravitz subir ao palco. Dado que aqui pelo giradiscos não somos grandes fãs do norte-americano, optámos por continuar afastados da acção. Fomos, no entanto, surpreendidos.
No meio de um cartaz sem dúvida ecléctico, mas elaborado em torno de um conceito "alternativo", não esperávamos uma tal recepção por parte do público do Parque Tejo naquela noite. Se os Wray Gunn tinham o espírito e os Pixies atraíam os pecadores em busca da salvação, Lenny chegou para espalhar a mensagem do amor e da alegria. Ele ama Lisboa, põe toda a gente em frente ao palco a abanar os braços, fala e fala entre cada música e até quer levar uma rapariga simpática para casa, desde que ela lhe faça o jantar.
Mas o que estes 7 álbuns (e vários singles em cada um) lhe conseguiram proporcionar foi a possibilidade de um longo concerto em que quase todas as músicas são êxitos. Mesmo quem não gosta reconhece os primeiros acordes e consegue cantar pelo menos o refrão. Mas isso é para os que estão cá atrás, porque os de lá da frente, os muitos milhares que sabem as letras e fazem a festa, deliram com todo o concerto e têm direito a ver Lenny mais de perto, quando este salta do palco para o meio do público, a ensaiar coreografias e certamente a partir alguns corações.
O encore era obrigatório, o que atrasa um pouco o programa, mas delicia um enorme grupo de fãs, que contribuíram em muito para o espectáculo, surpreendendo talvez até os próprios músicos, e que prolonga o concerto até à uma da manhã.
Com o povo já cansado, e muitos de nós desde logo a guardar lugar para Massive, coube aos Clã encerrar as actividades do palco Quinta dos Portugueses. Mais uma vez, esperáva-nos uma surpresa.
É que, na minha opinião, este foi o melhor concerto da noite. Não envolveu ressurreições ou arrastamento de multidões, mas foi simplesmente mágico. Manuela Azevedo começa baixinho a cantar "o sonhos dos meus amigos é ter um gti", à medida que os restantes músicos, um a um, vão entrando em palco, até formarem uma linha avançada, toda ela de preto, pronta a atacar. Ela despe a camisola pouco depois e desatam a marcar. Puseram toda a gente a cantar com "H2omem" e o "O Sopro do Coração", passaram 2 vezes pelo recente álbum "Rosa Carne" e puseram mais gente ainda a "Dançar na Corda Bamba".
O público e a banda, duas partes de um todo, musical e muito orgânico, eles a prometer voltar em breve, nós a querer que eles voltem, a cantar e a bater palmas até ao fim. Foi mesmo bonito de viver, e sentir.
Faltavam 15 minutos para as duas da manhã, há algumas movimentações num palco que escurece e começa pouco depois a ouvir-se uns toques de "Future Proof", a primeira música do último álbum dos Massive Attack, "100th Window", e que iniciava também os espectáculos do ano passado.
Iniciava, porque afinal essa sequência pára, e eis que se começa a ouvir "Angel". Enquanto 3D se dirige para as máquinas bem no centro do palco mas mais atrás, é Horace Andy quem faz as honras e dá início às hostilidades. As músicas seguintes mostram que este será um concerto atípico, já que apenas os primeiros 3 álbuns são visitados, deixando o mal amado "100th Window" de fora. Para ajudar, somos brindados com uma sequência sem voz e muita maquinaria acompanhada de guitarras, um som que se torna cada vez mais pesado e intenso, ao longo de 10 minutos sem tréguas.
Ouvem-se clássicos como "Spying Glass", "Teardrop" (na versão mais fraca que já ouvi até hoje), "Hymn of the Big Wheel", "Inertia Creeps", e "Karmacoma" põe toda a gente a dançar. Os sons mais frios e maquinais regressam com "Antistar", do último álbum, e na saída de palco o filme já é mais familiar, com Angelo na guitarra a alimentar uma versão musculada de "Safe From Harm" até um poderoso final.
Contrariando o programa do dia, este revelava-se um concerto mais curto que os anteriores, mesmo com o encore que se seguiria. No regresso, os Massive trazem dois enormes balões em forma da bola oficial do Euro 2004 e elogiam o feliz encontro que se viverá nos dias seguintes, "the beautiful game, the beautiful country". Diz-se até que foi o Campeonato Europeu que desempenhou um papel decisivo na vinda dos Massive e de Fatboy Slim a Portugal, nesta altura, de modo a poderem assistir a alguns jogos. Não saíram foi muito contentes do Estádio da Luz no Sábado...
Surge então o maior dos clássicos, "Unfinished Sympathy", e o delírio vertiginoso que era o final dos concertos com "Group Four" é desta vez substituído por "Future Proof", que tinha ecoado logo no início. E se em "100th Window", esta é aquela música que faz a ponte com o anterior "Mezzanine", pelo modo como conjuga as electrónicas com a mais suja guitarra, em palco essa fusão é ainda mais acentuada, e a espiral sonora está garantida até à explosão final.
Não foi um concerto fácil de ouvir, principalmente para quem não é fã ou não conhece as músicas dos Massive, mas foi mais uma reescrita das regras que ditam o caminho da banda, sempre aqui recebida de braços abertos, e que levarão decerto mais uma mão cheia de boas recordações. Foi mais um, e parece sempre ser o primeiro. Come back soon.
Os senhores saem de cenário, começa a retirar-se o material e uma tela preta é instalada de modo a tapar todo o palco. Uns 10 metros mais à frente uma mesa é instalada, com algumas colunas e o que parece ser um gira-discos. As suspeitas confirmam-se perto das 03h45, quando Norman Cook, ou o seu alter-ego Fatboy Slim, surge para iniciar a sua sessão de deejaying.
Apesar de ter começado bem, com uma remistura de White Stripes, não era bem daquilo que eu estava à espera. A noite decorre então em ambiente de mega-discoteca ao ar livre, bem longe das músicas que trouxeram sucesso ao personagem Fatboy. Não quer isto dizer que a prestação tenha falhado, longe disso. Vários milhares de pessoas que ainda se encontravam no recinto alimentavam a festa com danças e respondendo aos apelos do maestro, que saiu do seu pódio para ir à multidão buscar um apito e pastilhas elásticas.
Os ecrãs gigantes iam passando continuamente imagens ao vivo misturadas com animações e imagens de outras aparições de Fatboy, enquanto o som continuava também ele incessante. Resistimos até às 04h30, hora a que ainda nos foi complicado furar para chegar ao outro lado do recinto, onde se encontrava a única saída.
No final, fica um grande dia de concertos em ambiente de festa, mas também as más condições que, espera-se, não se voltem a repetir na próxima edição. Se já lá vão 10 anos, houve mais que tempo para aprender com os erros. Queremos grandes bandas, mas onde as possamos disfrutar.
Até breve!
Texto: Dracul; Jq (Pixies) / Fotos: Liars, NME.com, Mondo Bizarre, 4AD, Álvaro Isidoro (2) - Disco Digital, XFM online, VH1.com, [CLÃ], Massive on Tour Gallery, Fatboy Slim.
O cartaz não só era impressionante, como também extenso, o que fez com que as actividades musicais começassem bem cedo, perto das 17 horas, com as actuações dos Loosers e dos X-Wife, no palco Quinta dos Portugueses. Apesar de termos recebido a tempo a dica de apanharmos o comboio até Sacavém para nos dirigirmos até ao recinto (afinal não era assim tão perto do Parque das Nações...), que ficava mesmo junto à estação, já não chegámos a tempo destes primeiros dois concertos do dia.
Eram então 18 horas e havia já uma enorme romaria a dirigir-se para o festival, mesmo a tempo de assistir ao início do concerto dos norte-americanos Liars.
Em uma hora de música retirada quase sempre de bateria, guitarra e voz, com alguns efeitos à mistura, a sensação era a de que os três elementos da banda estavam a dar uma grande festa em palco, para eles próprios.
Referenciados com o pós-punk e com o pós-industrial, o que quer que isso signifique, é sobretudo a parte do punk que é ilustrada em palco, tanto pela música como pela atitude, e que conseguiu puxar algum entusiasmo às poucas centenas de pessoas que se encontravam em frente ao palco.
Num programa sem interrupções, ao final do concerto dos Liars seguiu-se de imediato a actuação de André Indiana, com o seu característico som poderoso e contagiante, num espectáculo que denota já uma grande rodagem pelos palcos nacionais e com várias canções familiares ao ouvido. Contagiante mesmo à distância, já que passámos a maior parte do concerto afastados do palco, nas muitas filas que havia, ora para comer, ora para ir às casas-de-banho.
Perto das 19h30 foi a vez dos britânicos Hundred Reasons iniciarem a sua actuação, da qual só vimos mais de perto a 2ª metade. Com o vocalista Colin Doran muito activo, fica talvez a ideia de um som já ouvido noutro lado, com essa possível falta de originalidade a ser compensada por uma enorme vontade e entrega em palco, que são já imagens de marca desta banda.
Com um primeiro registo discográfico em 2000, através de um EP reeditado em 2002, os Hundred Reasons e o seu rock pesado têm já uma considerável legião de fãs no Reino Unido, onde realizam digressões regularmente, mas demoram a impôr-se no resto da Europa.
Com o recinto cada vez mais cheio, era chegada a hora de Paulo Furtado vir espalhar a palavra do senhor (a sua), acompanhado dos restantes membros dos Wray Gunn, em estado de graça desde o recente lançamento do 2º álbum "Eclesiastes 1.11".
Logo à entrada o tom religioso é dado pelo coro gospel, os primeiros a entrar em palco, todos de preto vestidos e dispostos a converter-nos. Quem não tem cara de pastor é Paulo Furtado, que pouco tempo depois já tirou a camisa e vai guiando a orquestra por canções do último álbum, com os restantes elementos a trocarem de posições e a entrar e sair de palco várias vezes.
Depois de ter assistido a concertos do Legendary Tiger Man, fica a sensação de que os Wray Gunn são uma versão em formato maior do que aí é apresentado num "one-man-show", onde lá o espectáculo é dado por um músico sentado (mas frenético) e aqui o delírio musical e visual é total.
Perto do final passam por "Lonely", talvez a sua música mais conhecida, numa versão muito diferente da original, mas os fiéis começam já a procurar a redenção noutro local, já que mesmo ao lado faltam apenas alguns minutos para o concerto mais aguardado da noite.
Era um sonho de miúdo. Os Pixies, todos juntos e ao vivo. O receio era algum, depois de um afastamento digno de uma "banda de ruptura" (cada um para seu lado, talvez com a excepção de Black Francis e de Santiago que, segundo parece, ainda se entendem), sem paciências para egos alheios e fartos de se prenderem mutuamente; depois de declarações recentes a afastarem hipóteses de uma possivel reunião (segundo Black Francis, há cerca de um ano, só iria aturar o resto da xaranga se estivesse sem dinheiro, algo que, dizia ele na altura, não se afigurava provável); de projectos paralelos (Frank Black, Breeders e sabe-se lá que mais andaram estes tresloucados a inventar); a fasquia já só estava em o concerto acontecer de facto.
O palco estava lá, sim senhor, os horários a serem escrupulosamente cumpridos (este Super Bock falhou nalgumas coisas, mas não aqui), OK, também está certo; uma data de ex-teenagers rebeldes bem estabelecidos na vida (pelo menos o suficiente para abdicarem de um final de sexta-feira e de 37 euros), bom tempo, descontracção (pelo que vi, muita dela aditivada com vegetação tropical) e... entram os tais tipos manhosos que faziam isso de música diferente (seja lá o que isso for), que misturavam espanhol com inglês, distorção com acústica, que gritavam; ele era baterista a fumar e vocalista gordo, ele era música para surfista ouvir vinda de uns tipos que tinham era mas é ar de quem fica na esplanada a beber copos; ele era macacos e planetas nas capas dos vinis; resumindo, e como diria um tipo que eu conheço, o "fim do mundo em cuecas".
Numa expressão: está tudo mais velho. Uns mais intelectuais (Santiago e Lovering mais parecia que tinham acabado de lançar um livro), outros mais gordos (Deal, Lovering e, evidentemente, Black Francis...) e todos com um ar mais limpinho. Mas atenção, como se viu passado pouco tempo, pelo menos para tocar ao vivo não está tudo morto. Deal já não se mexe muito, é um facto, mas não falha uma nota.
"Bone Machine" a começar e, primeira constatação, eles vieram para tocar. Tudo, mas mesmo tudo, a funcionar. O som estava devidamente calibrado, eles a tocarem compenetrados, com uma perfeição de meter inveja e praticamente sem interacção com o público. "Something Against You", "Monkey Gone to Heaven", "Gigantic", "Velouria", "Allison", "Hey", "Where Is My Mind", o mal amado "Here Comes Your Man", "Crackity Jones", "Caribou" e sei lá que mais... No fim de uma, logo outra, não havia tempo a perder.
Infelizmente para o leitor, tenho de referir mais uma nota pessoal (preparem-se que vão haver mais): estava com um grupo de amigos que não estava todo junto há uns largos anos. Já me estava a borrifar para a falta de interacção, cantámos todos as músicas em coro. Eles eram os Pixies, vieram para tocar e tocaram como eu sempre os quis ver.
O David Lovering a cada música que passava parecia mais novo, ele até pode estar a tocar o ritmo mais fácil do mundo, mas fá-lo com uma pinta indescritível. Só a Kim Deal continuava algo parada (alheada?), e creio que foi ela a envelhecer mais. No entanto, sempre me lembro daquele ar indiferente, agarrada ao baixo enquanto fumava um cigarro; isto sempre que não cantava. Só vislumbrei um sorriso de menina quando (e não me lembro exactamente quando) se apercebeu, numa fase mais pausada do "barulho", que o público cantava em conjunto com ela. Pareceu-me vislumbrar uns olhitos a quererem dizer "eu bem te disse que valia a pena voltares com a tua xaranga".
Black Francis continua a gritar em "Isla de Encanta", em "Vamos", em tudo que lhe apetece. Joey Santiago, o guitarrista filipino (estes gajos são mesmo "fora"), continua a fazer solos que mais ninguém faz. Não é que sejam assim tão bons (também não são assim tão maus), mas é talvez o melhor do mundo a pôr um chapéu em cima de uma guitarra na vertical, com distorção e feedback, e tudo aquilo soar bem (mais uma nota pessoal, não fumei nada e só bebi uma cerveja antes do concerto).
Quem não conhecia e não ficou a gostar era porque não tinha que ficar a gostar. Apesar de "Here Comes Your Man", nem toda a gente tem de gostar do gordo que grita com a xaranga. Já vieram outros depois, que foram mais longe, é certo; mas eles, na altura, abriram portas, foram mesmo diferentes. Agora é mais fácil.
Quem já gostava não se arrependeu, foi mesmo um concerto dos Pixies. Talvez mais perfeitos a tocar, talvez menos comunicativos, mas eles nunca ficaram na história por serem simpáticos. Ficaram sim por "agarrarem no material e mostrarem como é".
Faltava uma das minhas favoritas (lá vem a nota pessoal), "Gouge Away". Já agora, Eliana, haja justiça nesta coisa do pessoal, uma das "nossas" favoritas. Começa o encore e lá vem ela (não a Eliana, o "Gouge Away"...).
Para finalizar (senão isto nunca mais acaba) e se é redundante dizer que uns gajos que se separaram lá para 1991 (se é que há alguém sabe ao certo quando foi) só tocaram músicas antigas, não posso deixar de registar que, praticamente, não tocaram nada do "Trompe le Monde", último álbum da banda. Até no alinhamento surpreenderam. Tive pena, porque a versão de "Head On" (original dos Jesus and Mary Chain) é, para mim, incontornável. Mas se calhar, eles estão é mesmo sem dinheiro.
Após os Pixies saírem de palco, milhares de pessoas começaram a andar em todas as direcções, para comer, descansar, aliviar-se, o que fosse, e num recinto sem qualquer iluminação a não ser a dos palcos e a das roulottes da comida, foi a confusão total (um pouco semelhante às celebrações dos Santos Populares nas ruas de Lisboa no dia seguinte, mas mais escuro).
Incluídos nesse grupo, não pudemos fazer mais do que assistir de longe aos jogos de luzes do palco secundário, onde a essa hora actuavam os Pluto. A nova banda de Manuel Cruz e Peixe, ambos ex-Ornatos Violeta, não teve sorte no sorteio e poucos devem ter ficado para assistir ao concerto. A minha curiosidade em assistir a mais uma reencarnação do meio musical português terá de aguardar por outra (melhor) oportunidade, de preferência em nome próprio.
Numa ronda pela net, vê-se que não fomos os únicos a ir dar uma volta nesta altura, mas ainda se apanha um «som mais cru e pesado, mas altamente apelativo e sempre com o carimbo de qualidade das letras de Cruz» na rock sound, e o Público falou em «introspecção sinfónica», «longas digressões psicadélicas», «solos de guitarra progressiva» e Radiohead. Esperemos pelo próximo concerto, e pelo álbum.
Pouco depois das 23 horas, é chegada a vez de Lenny Kravitz subir ao palco. Dado que aqui pelo giradiscos não somos grandes fãs do norte-americano, optámos por continuar afastados da acção. Fomos, no entanto, surpreendidos.
No meio de um cartaz sem dúvida ecléctico, mas elaborado em torno de um conceito "alternativo", não esperávamos uma tal recepção por parte do público do Parque Tejo naquela noite. Se os Wray Gunn tinham o espírito e os Pixies atraíam os pecadores em busca da salvação, Lenny chegou para espalhar a mensagem do amor e da alegria. Ele ama Lisboa, põe toda a gente em frente ao palco a abanar os braços, fala e fala entre cada música e até quer levar uma rapariga simpática para casa, desde que ela lhe faça o jantar.
Mas o que estes 7 álbuns (e vários singles em cada um) lhe conseguiram proporcionar foi a possibilidade de um longo concerto em que quase todas as músicas são êxitos. Mesmo quem não gosta reconhece os primeiros acordes e consegue cantar pelo menos o refrão. Mas isso é para os que estão cá atrás, porque os de lá da frente, os muitos milhares que sabem as letras e fazem a festa, deliram com todo o concerto e têm direito a ver Lenny mais de perto, quando este salta do palco para o meio do público, a ensaiar coreografias e certamente a partir alguns corações.
O encore era obrigatório, o que atrasa um pouco o programa, mas delicia um enorme grupo de fãs, que contribuíram em muito para o espectáculo, surpreendendo talvez até os próprios músicos, e que prolonga o concerto até à uma da manhã.
Com o povo já cansado, e muitos de nós desde logo a guardar lugar para Massive, coube aos Clã encerrar as actividades do palco Quinta dos Portugueses. Mais uma vez, esperáva-nos uma surpresa.
É que, na minha opinião, este foi o melhor concerto da noite. Não envolveu ressurreições ou arrastamento de multidões, mas foi simplesmente mágico. Manuela Azevedo começa baixinho a cantar "o sonhos dos meus amigos é ter um gti", à medida que os restantes músicos, um a um, vão entrando em palco, até formarem uma linha avançada, toda ela de preto, pronta a atacar. Ela despe a camisola pouco depois e desatam a marcar. Puseram toda a gente a cantar com "H2omem" e o "O Sopro do Coração", passaram 2 vezes pelo recente álbum "Rosa Carne" e puseram mais gente ainda a "Dançar na Corda Bamba".
O público e a banda, duas partes de um todo, musical e muito orgânico, eles a prometer voltar em breve, nós a querer que eles voltem, a cantar e a bater palmas até ao fim. Foi mesmo bonito de viver, e sentir.
Faltavam 15 minutos para as duas da manhã, há algumas movimentações num palco que escurece e começa pouco depois a ouvir-se uns toques de "Future Proof", a primeira música do último álbum dos Massive Attack, "100th Window", e que iniciava também os espectáculos do ano passado.
Iniciava, porque afinal essa sequência pára, e eis que se começa a ouvir "Angel". Enquanto 3D se dirige para as máquinas bem no centro do palco mas mais atrás, é Horace Andy quem faz as honras e dá início às hostilidades. As músicas seguintes mostram que este será um concerto atípico, já que apenas os primeiros 3 álbuns são visitados, deixando o mal amado "100th Window" de fora. Para ajudar, somos brindados com uma sequência sem voz e muita maquinaria acompanhada de guitarras, um som que se torna cada vez mais pesado e intenso, ao longo de 10 minutos sem tréguas.
Ouvem-se clássicos como "Spying Glass", "Teardrop" (na versão mais fraca que já ouvi até hoje), "Hymn of the Big Wheel", "Inertia Creeps", e "Karmacoma" põe toda a gente a dançar. Os sons mais frios e maquinais regressam com "Antistar", do último álbum, e na saída de palco o filme já é mais familiar, com Angelo na guitarra a alimentar uma versão musculada de "Safe From Harm" até um poderoso final.
Contrariando o programa do dia, este revelava-se um concerto mais curto que os anteriores, mesmo com o encore que se seguiria. No regresso, os Massive trazem dois enormes balões em forma da bola oficial do Euro 2004 e elogiam o feliz encontro que se viverá nos dias seguintes, "the beautiful game, the beautiful country". Diz-se até que foi o Campeonato Europeu que desempenhou um papel decisivo na vinda dos Massive e de Fatboy Slim a Portugal, nesta altura, de modo a poderem assistir a alguns jogos. Não saíram foi muito contentes do Estádio da Luz no Sábado...
Surge então o maior dos clássicos, "Unfinished Sympathy", e o delírio vertiginoso que era o final dos concertos com "Group Four" é desta vez substituído por "Future Proof", que tinha ecoado logo no início. E se em "100th Window", esta é aquela música que faz a ponte com o anterior "Mezzanine", pelo modo como conjuga as electrónicas com a mais suja guitarra, em palco essa fusão é ainda mais acentuada, e a espiral sonora está garantida até à explosão final.
Não foi um concerto fácil de ouvir, principalmente para quem não é fã ou não conhece as músicas dos Massive, mas foi mais uma reescrita das regras que ditam o caminho da banda, sempre aqui recebida de braços abertos, e que levarão decerto mais uma mão cheia de boas recordações. Foi mais um, e parece sempre ser o primeiro. Come back soon.
Os senhores saem de cenário, começa a retirar-se o material e uma tela preta é instalada de modo a tapar todo o palco. Uns 10 metros mais à frente uma mesa é instalada, com algumas colunas e o que parece ser um gira-discos. As suspeitas confirmam-se perto das 03h45, quando Norman Cook, ou o seu alter-ego Fatboy Slim, surge para iniciar a sua sessão de deejaying.
Apesar de ter começado bem, com uma remistura de White Stripes, não era bem daquilo que eu estava à espera. A noite decorre então em ambiente de mega-discoteca ao ar livre, bem longe das músicas que trouxeram sucesso ao personagem Fatboy. Não quer isto dizer que a prestação tenha falhado, longe disso. Vários milhares de pessoas que ainda se encontravam no recinto alimentavam a festa com danças e respondendo aos apelos do maestro, que saiu do seu pódio para ir à multidão buscar um apito e pastilhas elásticas.
Os ecrãs gigantes iam passando continuamente imagens ao vivo misturadas com animações e imagens de outras aparições de Fatboy, enquanto o som continuava também ele incessante. Resistimos até às 04h30, hora a que ainda nos foi complicado furar para chegar ao outro lado do recinto, onde se encontrava a única saída.
No final, fica um grande dia de concertos em ambiente de festa, mas também as más condições que, espera-se, não se voltem a repetir na próxima edição. Se já lá vão 10 anos, houve mais que tempo para aprender com os erros. Queremos grandes bandas, mas onde as possamos disfrutar.
Até breve!
Texto: Dracul; Jq (Pixies) / Fotos: Liars, NME.com, Mondo Bizarre, 4AD, Álvaro Isidoro (2) - Disco Digital, XFM online, VH1.com, [CLÃ], Massive on Tour Gallery, Fatboy Slim.
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