As dúvidas eram algumas. Dada a proliferação de concertos e festivais, e devido ao "não entusiasmo" que o 2º álbum me despertou (é certo que apenas desde 6ª feira), questionava-me como seria a prestação dos Zero 7 e o ambiente no Coliseu de Lisboa.
A primeira dúvida começou a ser esclarecida assim que me aproximei do Coliseu. Gente, muita e variada, dirigia-se calmamente para a Rua das Portas de Santo Antão. O ambiente não parecia comprometedor. Lá dentro, um DJ de nome desconhecido (pelo menos para mim e até agora) ia desfilando um som descontraído, com um ligeiro toque de dub e batidas de leve cadência.
Não passou totalmente despercebido, mesmo com uma postura discreta e descomprometida, e arrancou o primeiro aplauso da noite aquando da sua despedida ligeira.
A noite propriamente dita começou morna, apesar de "Warm Sound" ter sido o tema de abertura dos Zero 7. O primeiro vocalista da noite, Mozez, não deixa contudo os seus créditos em mãos alheias e começa a desfilar uma solidez de voz e postura que não vacilou por um momento nas suas diversas aparições da noite. O resto da banda começou também a dar uma imagem que creio ser difícil de desmentir. Parecem-me acima de tudo uns tipos bem dispostos que procuram sons suaves ao ouvido, com uma simplicidade acima de tudo enganadora (pois como dizia Sérgio Godinho, a simplicidade conquista-se…).
A segunda voz (na função e na noite), de Yvonne John Lewis, foi, numa palavra, competente. Fez o que tinha a fazer. E bem. A sua posição neste enredo não a inibiu (felizmente) de improvisar, o que ilustra bem como a simplicidade se conquistou na cruzada dos Zero 7. É que Yvonne seria uma excelente "leading vocal" numa qualquer outra história. Talvez até nesta.
Talvez a principal responsável da tépida temperatura que se fez sentir numa primeira fase tenha sido Tina Dico. Não que tenha má voz (que não tem), mas o brilhantismo que fez vender muitas cópias de "Simple Things" (ainda) não se alcança com ela na liderança dos temas.
E se as dúvidas ainda poderiam persistir quando as comparações no palco se mantinham na dupla Mozez/Lewis, primeiro Sophie Barker (com um memorável "Waiting Line" a 3 e quase acústico) e depois a avassaladora Sia Furler colocaram-lhe um ponto final. Sia é perfeita demais para ser verdade. Com ela tudo mudou. A banda encontrou claramente a liderança vocal feminina que o conjunto teclas/guitarra/baixo/electrónica necessitava para a sua brilhante (e nunca é demais referir, enganadoramente simples) componente "melódica". Os sons de ambiente e luminosidade azul no fundo do palco encontravam no amarelo brilhante da voz de Sia o ingrediente decisivo para que esta não fosse apenas uma banda/noite interessante.
Os improvisos de Dedi Madeen na guitarra, e creio que de Neil Cowley nas teclas, iam desfiando a simplicidade pop, por vezes quase a roçar o jazz. Jereny Stacey provou que a bateria mais "musculada" ao vivo que na produção de estúdio não é uma opção a descartar. E talvez estes possam ser pontos a aprofundar no futuro, para que "Simple Things" não se torne a âncora da banda.
O som flutuava conjuntamente com o inevitável fumo, e o concerto apesar de curto, não me desiludiu. Pelo contrário. Os dois "encores" apenas serviram para me aguçar o apetite de um novo álbum.
Finalmente, e se em "Destiny" poderá ter ficado a sensação de «demasiada gente a cantar para este som», Sia (mais uma vez) fez-nos vir para casa com "Distractions" a atravessar-nos o espírito de forma agradavelmente insistente. A melancolia da letra, e até da melodia, não pareceu afectar os espíritos do Coliseu. Com o regresso da luzes trocavam-se sobretudo sorrisos. Acima de tudo, uns tipos de bem com a vida…
Ao todo foram 11 em palco. E como Mozez tão bem sugeriu: «you can dance!».
Texto: jq / Fotos: Dracul
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