segunda-feira, maio 24, 2004

Fantômas na Aula Magna


Fantômas

O nome Mike Patton arrasta muita gente. Isso viu-se à porta da Aula Magna, na sexta-feira, e principalmente lá dentro porque, se sobrou algum lugar, eu não o encontrei. Eu próprio fui um pouco à descoberta, apenas com Delirium Cordia no currículo (e mesmo assim muito cru). Peguei no bilhete e fui com muita expectativa, e curiosidade, para ver o que iria sair daquele espectáculo.

Mas comecemos pelo princípio. E o princípio foi Kubik (na foto). Quando o vejo instalar-se com uma guitarra em punho e maquinaria por todo lado, lembrei-me inevitavelmente de Mugison, que fez a primeira parte do concerto dos Múm. Mas embora fosse igualmente irreverente o seu estilo era outro. Menos comunicativo com o público, mas com samples mais trabalhados, obra de um disco já editado. A sonoridade agradou aos presentes, como havia agradado a Mike Patton (que o convidou pessoalmente para fazer a primeira parte do concerto).

Mas espera lá? Quem são estes dois? Não estavam no programa!!! Descobri hoje, pela MOM que se tratava de um projecto chamado Evyind Kang (curiosamente o nome de um dos elementos). Eu sou muito céptico quando vejo alguém sacar de um laptop e começar a carregar nos botões. E a verdade é que a música deste duo não me agradou. Primeiro passou por uma combinação de um sample quase inaudivel, com uma leitura sussurrada de Jessica, igualmente inaudivel numa língua imperceptível. Inevitavelmente, os presentes iam trocando comentários e risos, quase de incredulidade. Depois, o líder deste projecto passou pela guitarra e pelo violino, tentando fazer world music, acompanhado por umas teclas muito inócuas. Enfim, no meu modesto parecer, este calminho projecto não se encaixa (nunca) antes dos Fantômas.

Depois, fomos brindados com uma típica banda sonora de um desenho animado da WB, enquanto os roadies iam preparando o palco para os senhores da noite. Quase que podia imaginar o Road Runner a escapar por entre as armadilhas do coyote, ou o Elmer Fudd a levar com uma bigorna na cabeça. Estava eu neste devaneio mental quando ouço um salva de palmas. Olho para o palco, e um muito discreto Mike Patton entra para dar uma ajudinha nos preparativos do concerto. Saiu tão ou mais discreto do que entrou. Passados uns minutos começa o espectáculo, entram os artistas, tomam os seus lugares, e começa a festa do terror. Aos primeiro sons reconhece-se Delirium Cordia, e a partir daí foi um debitar de sons terrificos, maquiavélicos e sem dúvida brilhantes. Mike Patton era mais maestro que do que executante, mas não deixava de surpreender com berros, guinchos e feed-backs estrategicamente colocados entre os delírios musicais dos restantes três "fantasmas". Dave Lombardo sabia perfeitamente para onde se virar, ele que estava rodeado de uma parafernália de instrumentos para percurssão, incluíndo um pobre balde de metal que muito sofreu ao longo do concerto. Patton e Lombardo como que brincavam um com o outro, trocando sons e sinais, e oleando perfeitamente a máquina que ainda tinha por companhia uns alucinados Buzz Osborne na guitarra e Trevor Dunn no baixo. Os dois eram como que gémeos que respondiam perfeitamente aos pedidos do maestro para tornar o ambiente terrificamente fantasmagórico. Passei todo o concerto à espera que alguém como Leatherface saisse dos bastidores, e começasse uma chacina a golpes de moto-serra nas primeira filas da Aula Magna. Mas não. O que nos surpreendia eram os climaxes sonoros que surgiam quando menos se esperava, bem à imagem dos discos dos Fantômas (sim, dos discos, porque, entretanto, o giradiscos já ouviu The Director's Cut). No início do encore, Mike Patton dirigiu-se pela única vez à plateia num fantástico português, para travar este pequeno diálogo:

Mike Patton: "Muito Obrigado!"
Público: "YEEAAHHH!"
Mike Patton: "Somente uma pergunta. Está tudo bem?"
Público: "YEEAAHHH!"
Mike Patton: "Agora não vai estar!"

E não esteve mesmo, porque mais de metade da audiência levou as mãos aos ouvidos para tentar abafar os ruídos estridentes e muito agudos que os Fantômas faziam cuspir para a plateia.

Em suma, a expectativa e a curiosidade era muita, e saí de lá saciado, com um disco debaixo do braço, e com um pensamento na cabeça:

Eu: "Estes gajos são completamente doidos... E ainda bem!"

Texto e foto do bilhete: J/ Fotos Fantômas: Gustavo Scafuro (Metal Open Mind)

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